Ausências que ficam





School (Supertramp) 1974


Soube pela comunicação social da morte de Frederico Valsassina (1930/2010), ocorrida no passado mês de Maio. Parte da minha existência fundamental, na qual se inclui toda a minha adolescência (do 7ª ao 12º ano), passou-se em termos escolares no Colégio que dirigia com denominação retirada do seu apelido, dado tratar-se de um projecto educativo familiar iniciado no final do século XIX. Fala-se muito de “LIDERANÇA”, do papel do “EXEMPLO”, da necessidade de respeitar as “DIFERENÇAS” ou de promover “DIVERSIDADES” na actualidade. Da sua boca nunca vi tal linguagem, não que não a tivesse como Homem culto que era e bem capaz de a utilizar nos anos “70” e “80” do século XX, por antecipação do que agora se transformou em formalismo retórico. A verdade, como acontece com os autênticos praticantes de QUALIDADES HUMANAS quando as possuem alicerçadas em VALORES que cimentam o seu CARACTER, exercia-as sem esforço, com a pedagogia de quem retirava mais prazer dessa forma do que se porventura se comportasse de outro modo. Estando atento, com o seu convívio, aprendia-se a conjugar a EFICIÊNCIA com a DISCRIÇÃO, fazendo desta relação uma equilibrada CONDUTA HUMANA agradável e eficaz nas RELAÇÔES HUMANAS.
O Colégio Valsassina era um exemplo de TOLERÂNCIA e respeito pela DIFERENÇA. Recordo-me de numa mesma turma ter por colegas tanto um filho do “Melo Antunes”, do “Almeida Santos” do “Cardoso e Cunha”, como de um antigo director da DGS, de muitos quadros empresariais que regressavam do Brasil depois de terminarem as ocupações e
nacionalizações, gerando-se um convívio em que o Colégio não privilegiava nem menosprezava ninguém.
A DISPONIBILIDADE foi algo que v
i praticar de forma singular. Sou testemunha de assistir a serem interrompidos os seus momentos de férias, para aconselhar um aluno a realizar uma melhoria de nota, pedir uma revisão de provas ou aconselhar um método de estudo para um exame específico. Era um mestre na JUSTIÇA COMUTATIVA. Apesar de proprietário do colégio, agia como mais um professor. Licenciado em matemática, quando o tempo permitia, substituia qualquer docente com esta disciplina num espírito de camaradagem e companheirismo profissional que a maioria das pessoas, mesmo quando obrigadas num plano normativo, não conseguem desempenhar. Sabia DELEGAR, criando um corpo de professores habilitados para as mais variadas tarefas, numa atitude rara oposta à desconfiança, ao receio de perder protagonismo tão característico de tantos ambientes.

Talvez com o seu exemplo, nunca tenha descartado a possibilidade de vir a ser professor. O tempo passado no seu estabelecimento de ensino, os seus reflexos na minha vida (dos 12 aos 18 anos), acumulados com o convívio mais recente como profissional noutros centros de ensino e com outra população escolar estimulam-me musicalmente a ouvir estas duas músicas postas no início e término deste post.




Camel - A Boy's Life 2002