Ano 2011






Genesis (Ripples) - Roma 2007


Vai ser necessária muita energia para 2011. É evidente a impreparação para lidar com a conjuntura. No pânico a mesquinhez vai tomando conta das relações humanas. A falta de perspectivas vai arrasando muitos laços de solidariedade que mantinham e explicavam o funcionamento e a razão de ser das organizações. É uma perfeita espiral de violência psicológica a que se está sujeito.
O que me parece mais lamentável é a quezília que torna as pessoas mais desconfiadas, isoladas, incapazes de se reencontrarem noutros caminhos, explorando novas oportunidades. Realizando um abandono ou separação sem mágoa, permitindo deixar portas por abrir se as circunstancias se proporcionarem.
Por todas estas razões o exemplo de Phill Collins (ausente dos Genesis durante 10 anos (1996/2006) me tem povoado a mente neste final de ano. Deixando, até com justificação de saúde, voltou ao projecto da banda com a ambição de recuperar, não apenas os que nunca a abandonaram, Tony Banks e Mike Rutherford, mas os que há muito a tinham deixado, Peter Gabriel e Steve Hachett. Não foi possível reunir todos, realizou-se a tourné com quem livremente se disponibilizou. Só estou grato por ter tido a oportunidade de escutar o tema Ripples da forma como foi interpretado.
A reter. Não existe espaço para “birras", participou livremente quem quiz, mas respeitaram-se todos, porque o hábito de continuar em diálogo nunca se perdeu, totalmente, ao longo dos anos. Só se “abandona-regressando” quando se sabe manter “pontes”, qualidade pouco visível, na actualidade, em que na ruptura estéril tantos se empenham.

Não sei a que horas me vou levantar, no 44º dia Mundial da Paz que tem por lema a "Liberdade religiosa, caminho para a Paz", mas bem podia começar a manhã com Steve Hackett (spectral Mornings).






Steve Hachett (Spectral Mornings)

Até lá vou utilizar um outro guitarrista ao nível de Steve Hackett, Andrew (Andy) Latimer, para realizar uma Catarsis (no sentido de acalmia e eliminação de factores que agitam a consciência) e uma Ataraxia (consentida na procura da tranquilidade da alma, na ausência de perturbações, na harmonia dos pensamentos) sobre o que foi o ano 2010.

Camel (Ice)

Pensar nos Esquecidos



Ecos na Catedral - Madredeus (2001)


No contexto da globalização existem mutações sociológicas em que comunidades religiosas são sujeitas a pressões identitárias entre os seus «localismos territorializados» tradicionais e os «localismos desterritorializados» em diáspora, desenvolvidos voluntariamente (fluxos de emigração) ou sobre pressão (fluxos de exilados).
Os cristãos árabes fornecem-nos abundantes exemplos desta natureza e sempre me suscitaram particular fascínio. O que se passa no Iraque deve ser motivo de reflexão. Circunscrevendo ao universo católico árabe, o mais significativo na especificidade iraquiana na forma do Patriarcado Caldeu, assiste-se a uma erosão da sua presença na vertente do «localismo» histórico e numa tentativa de afirmação crescente na diáspora permitida.
Incompreendidos por ignorância, apatia ou simples desinteresse mediático são esquecidos, paradoxalmente, nas sociedades que desenvolveram o multiculturalismo. São necessárias carnificinas como a ocorrida na Igreja de Nossa Senhora do Perpétuo Socorro, em Bagdad, no passado dia 31 de Outubro, para garantirem uma audiência mínima. Onde habitam, apanhadas pelo fundamentalismo religioso, são presa fácil para descarregar frustrações.
No caso do Iraque, oportunistamente por parte dos que querem transformar o país num aglomerado homogéneo étnico/religioso, realidade que nunca o foi, vêem-se transformar no bode expiatório, num alvo fácil, num sector colaboracionista, de “forças invasoras”. Estas, é sabido sem grande esforço intelectual, formam uma coligação precipitada, descabida e desproporcionada que destruiu uma sociedade que, sem dúvida mergulhada num autoritarismo atroz, tinha uma estrutura societária em que as matérias religiosas gozavam de liberdade.
Apanhados no meio de dois produtos expressivos da globalização, em ambos os casos com protagonistas exógenos, no caso do fundamentalismo islâmico (infiltrados) no caso dos invasores (transportados) a presença multissecular cristã iria ficar sobre ameaça extrema. Para ironia macabra da Igreja Católica Caldeia (também designada por Melquita do Oriente), a grande desestabilização veio de uma iniciativa de uma potência que esteve na base do rastilho do fundamentalismo islâmico em muitas partes do Mundo e, internamente, se debate com um fundamentalismo protestante.
A Equiparquia Metropolitana Caldeia de Bagdad tinha 325,000 crentes em 1990, apenas 145,000 no ano 2008. Menos de metade em 18 anos (Fonte – Annuario Pontifício – The Eastern Catholic Churches/2008). Não é um genocídio, mas é um etnocídio o que está a acontecer aos caldeus.