Que bela forma de comemorar o centenário

Em termos politológicos Portugal já tem um representante da República a conferir dignidade ao desempenho do cargo – o Presidente da AR, segunda figura do Estado – pelo que só o desejo de duplicação de funções, em tempo de crise, justifica este empurrar do povo português para um acto eleitoral. Notavelmente com 23% dos votos expressos é possível eleger, temporariamente (projecto quinquenal), um represente estadual???...Nacional??? ….????
Sobre a campanha grande retrocesso. Nas monarquias os Reis e as Rainhas emprestam a sua imagem para dar credibilidade ao dinheiro. É vê-los cunhados e impressos em moedas e notas. Nas repúblicas os candidatos ainda estão na fase de provar e justificar como aparece o dinheiro nas suas contas bancárias ou se materializa de forma imobiliária.


Disputa eleitoral

%

Abstenção

5.139.726

53%

Cavaco Silva

2.230.104

23%

Manuel Alegre

831.959

9%

Fernando Nobre

593.868

6%

Francisco Lopes

300.840

3%

Brancos

191.159

2%

José M Coelho

189.340

2%

Nulos

86.543

1%

Defensor de Moura

66.091

1%

Total

9.629.630

100%



Cavaco em 2006 teve 2,773,431 votos, perdeu mais de meio milhão. Está satisfeito, ainda por cima teve a proeza de ter obtido o pior resultado de um candidato em reeleição. Ficamos a saber que a sua vitória é sobre a calúnia personalizada sobre a sua pessoa. Continua a ser o de sempre: “nunca se engana” e é preciso “nascer” ou “morrer” para encontrar outro igual em capacidade e honestidade.
Lembrando-me dos anos de 1994 e de 1995, recheados de tabus e silêncios, em que tomava café devorando de forma assassina "bolo-Rei” como um carbonário sonhando ser presidente da colectividade portuguesa, veio-me ao ouvido a música de Sara Bareilles e a sua apropriada letra para “Reis de nada e de ninguém”.



Sara Bareilles (King Of Anything)


Manuel Alegre cumpriu no esperado para o seu carácter. Consegue exercer uma cidadania livre onde a defesa da caça, da tauromaquia, das dúvidas sobre “homossexualidades”, não são impeditivos para convencer uma base eleitoral que, nos manuais elementares de sociologia política, na sua essência repudia todas estas causas e desconfianças.
Nunca percebi a sua construção identitária. Sempre encostado a um passado glorioso da I República e de resistência na II, parece que tem amnésias nas “alegrias” que os seus familiares tiveram no decurso da democracia parlamentar monárquica do século XIX. Não teve o Rei Dom Carlos I, quinze anos antes de ser assassinado, tempo para fazer “alegre” a sua avó paterna com o título de baronesa da Recosta (decreto de 16-11-1893 / carta de 30-11-1893), quando o seu pai, bisavô de Manuel Alegre, já tinha sido encartado com o baronato de Cadoro. Só levar a sério uns costados, desequilibra a coluna.
Alegre tem o mérito de não poder ser ignorado no panorama cultural português. Não foi graças à sua poesia que podemos ouvir a magnifica Maria Ana Bobone, numa Igreja, sem medos nem preconceitos de parecer propaganda, ou melhor, proselitismo religioso.


Maria Ana Bobone (Meu Nome é Nome de Mar)