Para mim a condição básica da Amizade é que ela não está sujeita a comparações, não “cobra” afectos. Trata-se de uma relação humana voluntária, singular, que nos disponibiliza para a comunicação não regulamentada. É uma necessidade que se mantêm enquanto a vontade de partilhar aspectos vivenciais se mantém sólida. Trata-se de um acto sem precedentes de confiança:” É mais vergonhoso duvidar de um amigo do que ser enganado por ele” (Rochefoucauld 1613/1680).
A Amizade resiste ao tempo e as inevitáveis interrupções temporais porque pode passar, frequentemente, não determinam o seu fim. Nisto existe toda a diferença do simples conhecimento. De facto ter conhecidos ou amigos é completamente diferente. Nos conhecimentos imperam as relações humanas oportunas, a utilidade que se retira da posse dos mesmos ” Procurar a amizade pela utilidade que possa envolver, fugindo aos deveres que ela implica, é roubar-lhe toda a sua dignidade (Séneca 4 a.C./65 d. C).
Num certo sentido um amigo é uma reserva moral que não necessita de ser permanentemente abusada: “A amizade requer uma pitada de contenção, e é profanar o seu nome requerê-la a todo o momento” (Moliére 1622/1673).
A horizontalidade voluntária da relação, a confiança e a certeza que não somos sujeitos aos processos desgastantes de avaliação, tornam a Amizade das mais genuínas formas de convivência Humana: “É evidente que esta espécie de diálogo, que não tem necessidade de chegar a uma conclusão para fazer sentido, é a mais apropriada entre amigos que a vemos mais frequentemente partilhada. Em grande medida, com efeito, a amizade consiste nesta espécie de conversa sobre alguma coisa que os amigos têm em comum. Quando falam de alguma coisa que há entre eles, tornam-na ainda mais comum entre uns e outros. O que é assim partilhado não só adquire expressão articulada, mas desenvolve-se e expande-se por fim. Com o passar do tempo e da vida, inicia a constituição de um pequeno mundo de teor muito próprio que é compartilhado na amizade” (Hannah Arendt (1906/1975).
Mas quais serão as condições individuais para que alguém possa ser Amigo e mereça a Amizade? A autora em plena perspicácia responde, encontrando uma forma que não escapa à necessidade, básica, de introspecção que todo o Homem necessita para se realizar: “Só alguém que tenha a experiência de falar consigo próprio será capaz de ser um amigo, de adquirir um outro si/próprio. A condição é que se entenda consigo próprio, que esteja de acordo consigo próprio, porque quem se contradiz a si próprio é indigno de confiança”.
Continuando, magistralmente, socorrendo-se da tradição filosófica ocidental conclui Hannah Arendt: “O que Sócrates queria dizer (e que a teoria da amizade de Aristóteles explica mais plenamente) é que o viver com os outros começa com o viver consigo próprio. O ensinamento de Sócrates significa: “só aquele que sabe como viver consigo próprio é capaz de viver com os outros”. Já dizia Cícero (106 /43 a.C.): “Um amigo é, ou é como se fosse, um segundo eu” e Ralph Emerson (1803/1882): “Um amigo é alguém com quem posso pensar alto”. Este último autor ainda deixou esta singular realidade: “Para teres um amigo, tens que ser um amigo”.
Aristóteles (384/322 a.C.) ao pensar na Amizade precaveu a humanidade futura para esta realidade elementar “Sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que houvesse outros bens”. Mas com aquela intuição Ética peculiar foi ainda mais longe: “Se fossemos todos amigos não necessitaríamos de Justiça, mas mesmo que todos fossemos justos não deixaríamos de necessitar de amigos”. S. Agostinho (354/430) ao recordar o papel que a amizade tinha na formação da sua personalidade deixou escrito “Os prazeres que a minha alma mais fortemente apreciavam eram conversar com os amigos, rir, agradar mutuamente, com simpatia, ler juntos, gracejar com os outros, e divertirmo-nos juntos; às vezes discutir, ensinar ou aprender muitas coisas”.
Cultivar a Amizade potencia estar mais preparado para a adversidade: “A amizade redobra as alegrias e corta os males em metades “ (Francis Bacon 1561/1626). É um processo de conhecimento e aprendizagem: “A amizade é o meio pelo qual cada um de nós aprende a conhecer-se a si mesmo como um outro” (Paul Ricœur 1913/2005). Já dizia George Herbert (1593/1633) que “o nosso melhor espelho é um amigo antigo”.
A Amizade resiste ao tempo e as inevitáveis interrupções temporais porque pode passar, frequentemente, não determinam o seu fim. Nisto existe toda a diferença do simples conhecimento. De facto ter conhecidos ou amigos é completamente diferente. Nos conhecimentos imperam as relações humanas oportunas, a utilidade que se retira da posse dos mesmos ” Procurar a amizade pela utilidade que possa envolver, fugindo aos deveres que ela implica, é roubar-lhe toda a sua dignidade (Séneca 4 a.C./65 d. C).
Num certo sentido um amigo é uma reserva moral que não necessita de ser permanentemente abusada: “A amizade requer uma pitada de contenção, e é profanar o seu nome requerê-la a todo o momento” (Moliére 1622/1673).
A horizontalidade voluntária da relação, a confiança e a certeza que não somos sujeitos aos processos desgastantes de avaliação, tornam a Amizade das mais genuínas formas de convivência Humana: “É evidente que esta espécie de diálogo, que não tem necessidade de chegar a uma conclusão para fazer sentido, é a mais apropriada entre amigos que a vemos mais frequentemente partilhada. Em grande medida, com efeito, a amizade consiste nesta espécie de conversa sobre alguma coisa que os amigos têm em comum. Quando falam de alguma coisa que há entre eles, tornam-na ainda mais comum entre uns e outros. O que é assim partilhado não só adquire expressão articulada, mas desenvolve-se e expande-se por fim. Com o passar do tempo e da vida, inicia a constituição de um pequeno mundo de teor muito próprio que é compartilhado na amizade” (Hannah Arendt (1906/1975).
Mas quais serão as condições individuais para que alguém possa ser Amigo e mereça a Amizade? A autora em plena perspicácia responde, encontrando uma forma que não escapa à necessidade, básica, de introspecção que todo o Homem necessita para se realizar: “Só alguém que tenha a experiência de falar consigo próprio será capaz de ser um amigo, de adquirir um outro si/próprio. A condição é que se entenda consigo próprio, que esteja de acordo consigo próprio, porque quem se contradiz a si próprio é indigno de confiança”.
Continuando, magistralmente, socorrendo-se da tradição filosófica ocidental conclui Hannah Arendt: “O que Sócrates queria dizer (e que a teoria da amizade de Aristóteles explica mais plenamente) é que o viver com os outros começa com o viver consigo próprio. O ensinamento de Sócrates significa: “só aquele que sabe como viver consigo próprio é capaz de viver com os outros”. Já dizia Cícero (106 /43 a.C.): “Um amigo é, ou é como se fosse, um segundo eu” e Ralph Emerson (1803/1882): “Um amigo é alguém com quem posso pensar alto”. Este último autor ainda deixou esta singular realidade: “Para teres um amigo, tens que ser um amigo”.
Aristóteles (384/322 a.C.) ao pensar na Amizade precaveu a humanidade futura para esta realidade elementar “Sem amigos ninguém escolheria viver, ainda que houvesse outros bens”. Mas com aquela intuição Ética peculiar foi ainda mais longe: “Se fossemos todos amigos não necessitaríamos de Justiça, mas mesmo que todos fossemos justos não deixaríamos de necessitar de amigos”. S. Agostinho (354/430) ao recordar o papel que a amizade tinha na formação da sua personalidade deixou escrito “Os prazeres que a minha alma mais fortemente apreciavam eram conversar com os amigos, rir, agradar mutuamente, com simpatia, ler juntos, gracejar com os outros, e divertirmo-nos juntos; às vezes discutir, ensinar ou aprender muitas coisas”.
Cultivar a Amizade potencia estar mais preparado para a adversidade: “A amizade redobra as alegrias e corta os males em metades “ (Francis Bacon 1561/1626). É um processo de conhecimento e aprendizagem: “A amizade é o meio pelo qual cada um de nós aprende a conhecer-se a si mesmo como um outro” (Paul Ricœur 1913/2005). Já dizia George Herbert (1593/1633) que “o nosso melhor espelho é um amigo antigo”.
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