Vivemos derradeiramente momentos em que o desvario de promessas activadas nas situações mais variadas é mentor de altas expectativas, projectos grandiosos rapidamente geradores de todo o tipo de decepções e frustrações. Nuns casos, pensemos na classe política e empresarial (indistinta em muitas sociedades), uma «minoria exerce a actividade sobre a maioria». Em muitos mais casos aplica-se a máxima igualitária «meio mundo tenta enganar o outro meio mundo».
A gravidade do problema é grande e parte da megalomania dos que pensam, dramaticamente quando podem, estar na posse de soluções para os receios e medos que assolam as sociedades. Para quando valorizar-se o se ser parco nas promessas, nas capacidades de resolução dos problemas, na vaidade de se pensar que se pode alterar materialmente e psicologicamente o próximo.
O desvario na matéria é total. A política “cria” a sociedade, a medicina “dá” saúde, a amizade “fabrica” felicidade, existe quem “faça” amor. O Homo Sapiens Sapiens (nos dois géneros) bem pode comprar muitas cadernetas para coleccionar cromos de decepções.
Querem salvar a humanidade sem, individualmente, salvarem ninguém. Prometem na generalização sem concretizar na individualização. João Carlos Espada, na sua perspicácia politológica e profundamente conhecedor da obra de Karl Popper, capta o pensamento deste último de forma magistral (ainda bem que andei a arrumar livros):
“Finalmente, Popper sustenta que a engenharia social parcelar da sociedade aberta deve ser inspirada por uma máxima negativa que consiste em «aliviar o sofrimento humano susceptível de ser aliviado». De certa forma, trata-se de uma versão negativa da máxima utilitarista de «maximizar a felicidade do maior número». A versão negativa é preferível pelas mesmas razões que, em politica, é preferível combater males concretos do que promover bens abstractos. Em primeiro lugar, porque é mais fácil definir objectivamente sofrimento do que felicidade. Em segundo lugar, o sofrimento alheio é susceptível de produzir um directo apelo moral, o que não acontece necessariamente com a promoção da felicidade de terceiros. Finalmente a promoção da felicidade dos outros frequentemente envolve a intromissão nas suas vidas privadas e em posição sobre eles de uma hierarquia de valores – o que é desnecessário ou apenas excepcionalmente necessário quando se trata de aliviar o sofrimento ou combater males conhecidos”.
ESPADA, João Carlos, ROSAS, João Cardoso (Organizadores - 2004) Pensamento Político Contemporâneo. Uma introdução. Bertand Editoa, 1ª ed., p. 22.
A gravidade do problema é grande e parte da megalomania dos que pensam, dramaticamente quando podem, estar na posse de soluções para os receios e medos que assolam as sociedades. Para quando valorizar-se o se ser parco nas promessas, nas capacidades de resolução dos problemas, na vaidade de se pensar que se pode alterar materialmente e psicologicamente o próximo.
O desvario na matéria é total. A política “cria” a sociedade, a medicina “dá” saúde, a amizade “fabrica” felicidade, existe quem “faça” amor. O Homo Sapiens Sapiens (nos dois géneros) bem pode comprar muitas cadernetas para coleccionar cromos de decepções.
Querem salvar a humanidade sem, individualmente, salvarem ninguém. Prometem na generalização sem concretizar na individualização. João Carlos Espada, na sua perspicácia politológica e profundamente conhecedor da obra de Karl Popper, capta o pensamento deste último de forma magistral (ainda bem que andei a arrumar livros):
“Finalmente, Popper sustenta que a engenharia social parcelar da sociedade aberta deve ser inspirada por uma máxima negativa que consiste em «aliviar o sofrimento humano susceptível de ser aliviado». De certa forma, trata-se de uma versão negativa da máxima utilitarista de «maximizar a felicidade do maior número». A versão negativa é preferível pelas mesmas razões que, em politica, é preferível combater males concretos do que promover bens abstractos. Em primeiro lugar, porque é mais fácil definir objectivamente sofrimento do que felicidade. Em segundo lugar, o sofrimento alheio é susceptível de produzir um directo apelo moral, o que não acontece necessariamente com a promoção da felicidade de terceiros. Finalmente a promoção da felicidade dos outros frequentemente envolve a intromissão nas suas vidas privadas e em posição sobre eles de uma hierarquia de valores – o que é desnecessário ou apenas excepcionalmente necessário quando se trata de aliviar o sofrimento ou combater males conhecidos”.
ESPADA, João Carlos, ROSAS, João Cardoso (Organizadores - 2004) Pensamento Político Contemporâneo. Uma introdução. Bertand Editoa, 1ª ed., p. 22.
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