Meditações em noite de Halloween


Nunca se avançou tanto nas teorias de relacionamento profissional. Transversalmente as relações deontológicas têm sido alvo de muitas investigações apoiadas em contribuições científicas diversas. Enumerá-las é uma tarefa enciclopédica. Com esta panóplia como é que se chegou ao espírito de desagregação, desconfiança e desencanto actual? Crise? Certamente no plural? Com poucos conceitos vou descrever o ambiente de trabalho no que resta de Portugal.
Na teoria para o funcionamento de uma organização o bom senso remete-nos para a necessidade de reunirmos estas condições, dificilmente adquiridas porque o Homem precisa de desenvolver em termos endógenos um conjunto de qualidades humanas fundamentadas em valores. Com solenidade os especialistas formadores, que opinam nestas matérias, neste ponto costumam resumir o problema com um powerpoint sugestivo em que a frase mágica costuma ser "alcançar uma cultura de sucesso". Tradicionalmente os pilares na harmonia organizacional, sem ela não se chega ao sucesso organizacional, são:
a) Confiança na execução de tarefas
b) Reconhecimento nos saberes.
c)Empatia na partilha de responsabilidades.
d) Estima no contacto humano.
Em termos práticos o que efectivamente funciona nas estruturas organizativas portuguesas são estas quatro características. Ultrapassá-las seria sem dúvida um avanço deontológico decisivo:
a) Chantagem na distribuição e atribuição de tarefas.
b) Arbitrariedade nos modelos de avaliação.
c) Narcisismo nas tomadas de decisão.
d) Inveja e maledicência no trato humano.

No meio da ineficácia que tudo paralisia alguns particularismos estafados. Verdade que todos em coro sabem diagnosticar é que a Justiça não funciona, como se os detentores do Poder não tivessem sido os primeiros responsáveis ao criarem uma moldura legislativa propicia a todas as sabotagens. Para o refinamento da corrupção tive de desenterrar o Visconde Louis de Bonald (1754/1840), que durante a revolução francesa se teve de exilar, para perceber um pouquinho do que se passa: "a pior das corrupções não é aquela que desafia as Leis, mas a que se corrompe a ela própria".

Os gestores de Poder com chance de governação mais do preocupados com os interesses lesados da população, contabilizam os orgulhos feridos surgidos da necessidade de partilharem os aparelhos de decisão e execução política. Caro Louis de Bonald, podes ser um pensador esquecido ou maldito, mas muito acertivo neste tema: "Os orgulhos feridos são mais perigosos do que os interesses lesados".

O que resta de Portugal -importador e pouco exportador- moderniza-se com novas festividades. É interessante no mesmo património genético mudanças societárias tão aceleradas. Nas mesmas famílias onde dantes competia-se para arranjar uma indumentária de anjinhos para as procissões num outro calendário , agora procura-se uma farda original de diabinho ou de bruxa numa noite outonal. Vai assim a véspera do «Dia de Todos os Santos» numa sociedade ávida a importar tudo do exterior mas incapaz, como outrora, de exportar e acrescentar.

Importar por importar vou ouvir Adel numa boa tradução portuguesa. Neste caso não é importação é partilha cosmopolita, num mundo globalizado em que muitos «localismos desterritorizados» de qualidade subsistem e surgem no meio da banalização massificada, mascarada de vanguardista e progressista. Fazendo da provocação exteriorizada forma de vida que mais não é que truque camoflador da irritação e frustração de não se saber comunicar de forma mais profunda e reveladora de alguma interiorização singularmente atractiva.


Adele Música One And Only - Álbum 21 (2011)

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