Um Austracista Catalão exilado em Portugal relembrado por um seu descendente (1714/2014)

Generalitat de Catalunya
Consell de Cent de Barcelona
Braç Militar de Catalunya















I-Enquadramento Geopolítico
II-Contextualização da figura de Benet (Bento) Romaguera
III- Conjuntura Familiar 



Armas do Arquiduque Carlos III Espanha
Armas de SAR Dom João V e Dom José I














I
Enquadramento Geopolítico

A Guerra da Sucessão de Espanha durou 12 anos (1702/1714), tendo-se arrastado em termos diplomáticos até 1725. Portugal após desejar uma neutralidade e ter seguido a causa francesa, impelido pela Inglaterra, participa no conflito de forma activa na causa do arquiduque na aliança anglo-luso-germânica. O epicentro desta guerra civil peninsular ocorreu com a morte do último monarca da Casa de Habsburgo, Carlos II de Espanha, sem deixar herdeiros da rainha Maria Luísa d'Orleães, dado a morte precoce do seu filho Dom José Fernando da Baviera, Príncipe das Astúrias.
Aclamado Rei da Espanha em Viena, a 12 de Setembro de 1703, o arquiduque Carlos III tenta, a partir de Portugal, impor as suas pretensões. Desembarca em Lisboa a 9 de Março de 1704, onde é recebido com fortes apoios e entusiasmo. A 30 de Abril de 1704, Filipe V de Espanha declara guerra a Portugal iniciando-se uma nova etapa do conflito quase permanente na Península Ibérica. A tentativa de derrotar Filipe V, marchando até Madrid foi nesse ano um redundo fracasso, não passando de Ciudad Rodrigo e ficando território português sobre ocupação ou ameaça de o ser.
No ano de 1705 Carlos III deixa Lisboa numa esquadra inglesa com a intenção de se fixar na Catalunha. A partir de Portugal D. António Luís de Sousa (2º marquês das Minas), D. Dinis de Melo e Castro (1º conde das Galveias) e D. Álvaro José Botelho de Távora (2º conde de São Miguel) recuperam diversos territórios fronteiriços ocupados pelos espanhóis e franceses, libertando o castelo de Marvão e retomando diversas praças a norte do rio Tejo (Salvaterra do Extremo, Segura, Zebreira, Castelo Branco e Monsanto). D. Fernando de Mascarenhas (2º marquês da Fronteira e 3º conde da Torre) assume o comando das forças portuguesas. Na campanha de 1706, Alcântara rende-se a 14 de Abril, caindo Ciudad Rodrigo e Salamanca em mãos das tropas anglo-lusas-austriacas num processo de mobilidade de forças que permite que, a 28 de Junho de 1706 ,o Marquês de Minas entre em Madrid aclamando arquiduque Carlos III Rei de Espanha.
A morte de Dom Pedro II de Portugal, a 9 Dezembro de 1706, coincide com o impasse na guerra civil de Espanha onde Aragão, e de forma particular Catalunha e Valência, tomam partido pelo arquiduque Carlos III contra o restante território espanhol optando por Filipe V. Neste contexto de forte impopularidade Carlos III é recebido em Madrid a 2 de Julho de 1706, mas permanece apenas aí um mês retirando-se a 3 de Agosto, estrategicamente com o objectivo de consolidar o semicírculo de apoios constituído por Valência, Barcelona e Saragoça. Dom João V herdada o envolvimento de Portugal neste conflito quando se inicia o seu Reinado a 1 de Janeiro de 1707. A 25 de Abril desse ano ocorre a Batalha de Almansa que marca a viragem da guerra a favor de Filipe V. No alinhamento do exército do arquiduque forças aliadas de Portugal, Grã-Bretanha, Províncias Unidas e Aragonesas sofrem uma pesada derrota visível na perda de Valência. Os militares espanhóis austracistas vão criar laços que mais tarde explicam processos de exílio tomados por muitos deles.
O estabelecimento de corte do arquiduque Carlos III em Barcelona, num contexto de total respeito pelas tradições políticas autonomistas da cidade, entre 1705 e 1711 -período onde ocorre o seu matrimónio com Dona Elisabeth de Brunswick-Wolfenbüttel na Igreja/Basílica de S. Maria do Mar (1708) - granjeia uma popularidade  que explica que a causa austracista seja assumida maioritariamente na Catalunha. A morte de José I, irmão de Carlos III de Espanha, desencadeia a necessidade de este assumir o Império como Carlos VI, a partir de Viena, no ano de 1711. A sua saída de Barcelona não foi, inicialmente, uma abdicação dos seus direitos ao Trono de Espanha. Por essa razão a Imperatriz fica na cidade durante mais dois anos.

A subida ao trono Imperial de Carlos III levou à retirada do apoio da Inglaterra e da Holanda que receavam o surgimento da união do Sacro-Império com Espanha e uma geopolítica de “Carlos V” ressuscitada. Para estes países, que arrastam Portugal, o conflito foi encerrado nas negociações de paz em Utreque, na Holanda, a 7 de Novembro de 1712. Para ser aceito pelos outros países beligerantes, Filipe V teve que ceder à Grã-Bretanha a ilha de Minorca, nas Baleares, assim como o rochedo de Gibraltar e aos Habsburgos representantes do Sacro-Império os Países Baixos espanhóis. Também permitiu à Inglaterra um comércio limitado com suas colónias na América por meio de «navios de permissão», além de dar aos ingleses o direito de vender escravos por 30 anos nos referidos territórios. Portugal que já tinha sofrido incursões corsárias francesas no Rio de Janeiro posteriormente, a 11 de Abril de 1713, celebra um acordo com França onde este último país renúncia às possessões portuguesas na margem esquerda do rio Amazonas, no Estado do Maranhão.

A Diáspora austracista começou após a Victoria bourbônica na batalha de Almansa, ocorrida a 25 de Abril de 1707, que permite Filipe V submeter Valência e Aragão. Nesta altura muitos deslocam-se para Barcelona, onde a Corte de Carlos III estava instalada desde 1705, não pensando abandonar o Reino de Espanha. O êxodo torna-se significativo quando em Março de 1713 a imperatriz Isabel Cristina de Brunswick abandona Barcelona. No decurso do cerco (1713/1714) à medida que politicamente a resistência passa a ter um gradual carácter nacionalista populista regional fora da discussão inicial, podendo falar-se da existência de uma Comuna Barcelonesa, muitos são os que preferem emigrar. Barcelona rende-se e é, parcialmente, saqueada a 11 de Setembro de 1714.
Durante a subsequente ocupação e repressão da cidade por forças predominantemente franceses, após o 11 de Setembro de 1714, o exílio de muitos barceloneses acelera-se. Neste caso despontando uma situação classificável como sendo de nacionalismo catalão de base comunitarista que nada tem a ver com as motivações dos austracistas que monárquicos, lutaram por uma Catalunha e principado de Barcelona integrada numa Espanha plural. Abusivamente independentistas catalães pretendem, no século XXI e de forma particular em torno do tricentenário (1714/2014), ver nos austracistas a luta por uma soberania independentista, de carácter exclusivamente republicano, que nunca existiu.
Os austracistas derrotados exilam-se na Sardenha (onde existia uma comunidade catalã numerosa), Corte de Viena (opositores catalães de maior projecção social), Ducado de Milão, cidade Estado de Génova, Reino das II Sicília (com particular relevo em Nápoles que em 1735 ao ser saqueada por Filipe V provoca novo exílio catalão), Reino de Portugal (onde tantas conivências tinham existido e onde o meu 9º antepassado aqui em reflexão se exilou) e Países Baixos espanhóis (entretanto incorporados no Sacro Império Romano Germânico). O exílio austracista está contabilizado entre 25.000 a 30.000 pessoas, do qual a grande maioria provinha de Barcelona.
Na Corte Vienense fixaram-se cerca de 1.500 austracistas dos quais alguns ocuparam cargos importantes. O mais proeminente foi Ramon de Vilana Perlas, marquês de Rialp, nomeado secretário de Estado e de Despacho do Imperador Carlos VI (Carlos III de Espanha) que nunca renunciou por completo aos seus direitos como Monarca de Espanha. Prova disso é que enquanto Barcelona era cercada por Felipe V apoiado por um exercito francês o imperador Carlos VI criou o Conselho Supremo de Espanha em Viena, no ano de 1713, para atender a assuntos que se estendiam aos territórios italianos (Nápoles, Sardenha, Milão), aos Países Baixos incorporados na Casa de Áustria. Este Órgão foi dirigido por numerosos austracistas conhecedores de matérias em que já tinham actuado ao serviço dos interesses de Espanha na Europa. A proeminência da ascendência social de muitos destes exilados leva ao surgimento do «Partido Espanhol» que contava para além do marquês de Rialp com as importantes presenças do Arcebispo de Valência Antoni Folch de Cardona e o seu primo, Presidente de Conselho da Flandres, Josep Folch de Cardona. Muitos oficiais espanhóis vão comandar forças militares no contexto europeu ao serviço da Casa de Áustria e será criado o Hospital de Españoles dedicado aos austracistas exilados. Em termos culturais escritores e juristas como Francesc de Castellví ou Josep Plantí vão desenvolver uma importante actividade cultural em Viena.
A manutenção e prestígio da Escola Equestre Espanhola de Viena é bem uma herança cultural desta comunidade e de uma Casa Reinante, os Habsburgos, que estiveram na base de uma Dinastia que correspondeu a um dos períodos mais relevantes da História de Península Ibérica. A comunidade austracista no contexto da Casa de Áustria, por ser numerosa, chegou a construir uma nova Barcelona no Danúbio (região do Banato entre a Hungria, Roménia e Sérvia). O projecto por motivos climáticos foi um fracasso. Volvidos 3 anos (1735/38) os sobreviventes regressaram a Buda, Peste (ambas só deram lugar a Budapeste em 1873) e Viena. É criado o Real Bolsillo Secreto com o objectivo de ajudar os espanhóis, italianos e flamengos que desejaram continuar a ser súbitos do Arquiduque, Rei de Espanha e agora Imperador Carlos VI.

O Monarca Filipe V após o arquiduque Carlos III de Espanha e VI como Imperador renunciar ao reino de Espanha e das Índias com a contrapartida de perder a soberania sobre as possessões de Itália e dos Países Baixos, Tratado de Viena de 30 de Abril de 1725 que pôs oficialmente termo à Guerra de Sucessão de Espanha, alguns indultos e perdões permitem que cerca de 3.000 austracistas regressem a Espanha. Estavam excluídos os que combateram em Barcelona o que eliminava qualquer possibilidade a Benet Romaguera Colomer. Todos os amnistiados, eram examinados pela Junta de Dependencia de Extrañados y Desterrados que assegurava não serem pessoas que tinham participado na resistência de Barcelona. Existiu um carácter político vexatório que afastou o regresso de muitos exilados. Na realidade Filipe V, marcado pelo Absolutismo Real resistiu ao restabelecimento das Instituições e Leis próprias dos Estados da Coroa de Aragão representativas de uma sociedade plural em que o Rei é um árbitro de vontades, um condutor de anseios colectivos, aquilo que faz perdurar a Monarquia como uma mais valia até ao presente.

Os Decretos da denominada Nova Planta na Coroa, promulgados por Filipe V após a sua vitória, impuseram uma organização político-administrativa até aí desconhecida dos aragoneses e catalães. No primeiro dos Decretos em que a linguagem de "direito de conquista” não foi eliminado, são abolidos os antigos foros próprios dos reinos e condados da Coroa de Aragão. O uso do castelhano como língua administrativa torna-se obrigatório seguindo o modelo centralista francês. O Quarto Decreto, específico para ser aplicado na Catalunha, datado de 9 de Outubro de 1715 e que entrou em vigor em 1716, abolia a Generalitat de Catalunha, as Cortes Catalãs, o Conselho de Cento. O vice-rei era substituído por um capitão-general e a Catalunha dividida em corregedorias como em Castela ao invés das tradicionais veguerias. As milícias populares catalãs, os somaténs, extintos. Foi reintroduzido o conceito de Principado da Catalunha que nunca se popularizou. Das 6 universidades existentes manteve-se apenas uma em Cervera, Lérida, aberta. 


Está muito pouco estudada, na disputa dinástica pelo Reino de Espanha, a fixação de austracistas em Portugal. A realizada por João Trigueiros é uma excepção relevante.
Sobre a participação portuguesa muito existe para investigar. Vou debruçar-me sobre um dos portugueses que mais se envolveu na Causa Austracista, acabando por falecer em Viena e que aqui é relembrado por ter a curiosidade de em Barcelona ter estado alojado na casa dos tios maternos de Bento Romaguera, facto documentado e que na III parte deste post será indicado. D. Pedro Manuel de Ataíde (5.º conde Atalaia), tenente-general da cavalaria do Minho  participou no corpo expedicionário que entrou em Madrid e seguiu depois para a Catalunha. Distinguiu-se na batalha de Almansa. Acabou comandante-chefe das forças portuguesas na Catalunha e, neste comando interino, entrou em diversas batalhas pelo que foi louvado pelo Arquiduque Carlos da Áustria e pelo  marechal Schomberg. Foi-lhe concedida honras de Grande de Espanha e nomeado vice-rei da Sardenha, general da cavalaria de Nápoles governador de Castelnuovo na mesma cidade. Casado com uma filha dos 1.º Marqueses de Alegrete, D. Margarida Coutinho Teles da Silva, de quem teve um filho que tendo servido como capitão na cavalaria catalã viria a morrer prematuramente, avançando-se a hipótese de assassinato, não deixando geração directa legitimada. Por essa razão o 6º conde da Atalaia e 1º Marquês de Tancos veio a ser, em Portugal, um seu irmão D. João Manuel de Noronha.



II
Contextualização da figura de Benet (Bento) Romaguera


Bento Romaguera Colomer deve ter nascido em Barcelona no final da década de 80 do século XVII, deduzindo que se sabe que seus pais,   Juan de Romaguera  e Paula Colomer, naturais dessa cidade aí casaram em 1687. Sem grande margem de erro o ano deve ter sido entre 1688 e 1690. A reforçar estas hipóteses está o conhecimento que em 1709 era Alferes de Cavalaria.  Bento Romaguera para ter nascido a partir de 1690 tinha de realizar o prodígio de ser oficial de carreira na Arma de Cavalaria com ou menos de 19 anos.
A sua carreira militar inicia-se em plena Guerra da Sucessão de Espanha (1702/1714). Como se verá em enquadramento socioeconómico e político dos seus ascendentes (Parte III), o facto de Bento Romaguera ter tomado partido pela Causa Austracista deve ser encarada como uma opção natural inscrita dentro de uma família enraizada nas estruturas autonomistas da cidade de Barcelona, integradas na tradição aragonesa e consentidas numa Espanha multiregional, multinacional e multicontinental.
Sabemos que Bento Romeguera, Alferes de Cavalaria em 1709 na Companhia de Dom Francisco Sala y Sasala integrada no Regimento do Coronel Filipe de Sobias, é nomeado Sargento Maior do Regimento do General Gaspar Fernández de Córdoba, Bazán y Alagon (Córdoba de Comares), denominado Regiment de cavalleria nº12 "Aragón/Córdoba de l'Exèrcit Reial de Carles III) ", em 12 de Maio de 1710. Assim atesta o Barão Don Pio de Ravizza do Conselho da Fazenda de Sua Majestade, Vedor General do Exercito “Certifico que al Alferes Dom Benito Romaguera y Columer que lo era com exercício de la Compañia de Don Francisco Sala y Sasala del Regimento de cavallaria del Coronel Dom Felippe de Sobias. Se le à formado asiento oy dia de la fecha com el empleo de Alferes vivo en la del Sargento mayor del Regimento del General Dom Gaspare de Cordova y Alagon en virtud de Nombramento de dicho General y Decreto, que para Su Complemiento dio el General Comendante de las Tropas de su Magestad Conde de la Corzana, y para que conste en donde convenga doy la presente firmada de mi mano, y Sellada Con el Sello de mis armas. Barzelona doze de Mayo de mil Sete cientos y diez anos –Assignado- El Baron Don Pio de Ravizza – Lugar do Sello das armas”  Fonte: (Fonte: Registo na Secretaria de Guerra, folha 311, 02.12.1730, republicada Conselho de Guerra Vol. V Maço nº119, pp. 96 e 97, 1760 e processo na integra, Pub. IN, Lisboa, 1878).

Para ocupar o lugar do Regimento de Cavalaria nº 12, que se extingue em 1713 reflectindo a decadência e provável derrota da Causa Austracista, Sebastian Dalmau e Oller, com os efectivos sobreviventes que quiseram se manter fieis ao Arquiduque, cria o Regimento de Cavalaria nº 2 "La Fe" que com segurança sabemos que Bento Romeguera Colomer integrou: “Regiment de cavalleria de l'Exèrcit de Catalunya alçat a començaments de juliol-1713 a Barcelona després de la Traïció Anglesa (Pau d'Utrecht). Sota l'advocació de la "Santa Fe", la unitat va ser reclutada, ensinistrada, equipada, armada i finançada íntegrament pel Coronel Sebastià de Dalmau i Oller, veterà de la guerra que serví, probablement, en el Regiment de Cavalleria nº1 "Dragons del Rei" de l'Exèrcit Reial de Carles III. El Coronel Dalmau va voler alçar una unitat potent i va reclutar el màxim possible de veterans dels regiments de cavalleria de l'Exèrcit Reial, principalment els aguerrits aragonesos; els dos subalterns del Coronel Dalmau eren el Tinent Coronel Buenaventura de Cavero i el Sergent Major Cayteano Antillón, ambdós procedents de l'evacuat Regiment de Cavalleria nº12 "Aragón" de l'Exèrcit Reial de Carles III”.



Estandarte do "Regimient La fe" (1713/1714)



No mês de Julho de 1713, após a evacuação de todas as forças que se mantinham fiéis ao Arquiduque Carlos III para Barcelona, Bento Romeguera integra o que resta dos regimentos imperiais de cavalaria na unidade criada pelo coronel Sebastian Dalmau e Oller, sobre a divisa da “Santa Fé”. Ao todo são criados seis Regimentos de Cavalaria - nº1 "Rafael Nebot", nº2 "La Fe"; nº3 "Sant Jordi; nº4 "Dragons de Sant Miquel"; nº5 "Sant Jaume" e nº6 "Pere de Bricfeus", contra 12 que existiram entre 1706 e 1707.

Durante o cerco de Barcelona combate na defesa da cidade no "Regimient d'En Sebastià Dalmau/La Fe" (1713-1714), unidade de cavalaria com grande parte dos seus membros procedentes do Regimento de Cavalaria nº 12 de Aragão (Regiment de Cavalleria nº12 "Aragón" de l'Exèrcit Reial de Carles III) que durou de 1706 a 1713. Esta unidade vai sendo dizimada e no final do cerco já não existe de forma autónoma. Politicamente o combate austracista deixa de fazer sentido, o peso das pretensões independentistas de Barcelona assente num modelo de tipo genovês ou veneziano tomam força. As deserções austracistas tornam-se numerosas. Bento Romaguera abandona a frente de combate a 2 de Setembro de 1714, no 405 dia de cerco da cidade e a 9 dias antes do fim da resistência citadina. Na linguagem dos que no século XXI querem crer que a pretensão independentista actual é a continuação deste cerco a Barcelona, a atitude de Bento (Benet) Romaguera é tratada como de um traidor, de um refractário, ignorando que o combate austracista não foi catalão independentista e antimonárquico e que se esgotou com o crescente ambiente revolucionário que foi tomando a cidade. Na net é possível encontrá-lo tratado nesses termos, em diários que têm a importância de o referirem e a curiosidade de reflectirem um período marcado por condenações sumárias produzidas em “plenários” revolucionário:
(http://www.perabonspatricis.cat/2014/09/67-2-de-setembre-de-1714-dia-405.html); (12.01.15) http://www.diaridesetge.cat/2014/09/2-de-setembre-de-1714-dia-405.html; (12.01.15)




Bandeiras militares usadas em Portugal quando se exilou Bento Romaguera Colomer



Quando se instala em Portugal, mais precisamente em Faro, onde curiosamente “aportuguesou” o nome introduzindo um Silva nos apelidos, Benet (passa a Bento) Romaguera tenta integrar-se voluntariando-se com a sua experiência no exército. Não sabemos com uma exactidão absoluta quando chegou a Portugal. Com segurança sabemos que ele se encontra no Algarve em 1722 como voluntário no exército português: “Dom João por graça de Deos Rey de Portugal, e dos Algarves daquém e dalém mar em África Senhor de Guiné &.o  “(…) athé o Rendimento de Barcelona, deonde veyo para este Reyno, no qual há quasi oito annos que continua meu Servisso, que buscou voluntariamente e em que deseja empregarse toda a vida (…Por Rezoluçam de Sua Magestade de quatorze de Novembro de mil Sette centos e trinta em Consulta de trinta de Agosto do mesmo anno.). Fonte: (Provisão-Registo na Secretaria de Guerra, folha 311, 02.12.1730, republicada Conselho de Guerra Vol. V Maço nº119, p 96, 1760 e processo na integra, Pub. IN, Lisboa, 1878). Podemos concluir neste documento proveniente do Conselho de Guerra que a integração de estrangeiros que se voluntariavam nas forças armadas portuguesas não era imediata. Na realidade essa integração no Quadro do Exército português, com o posto de Alferes de Cavalos, ocorre por “Rezoluçam de Sua Magestade” a 14 de Novembro de 1730 e “Cumprace” a 28.12.1730 em Lagos, na Vedoria Geral da Gente de Guerra deste Reyno do Algarve naquilo a que se denominava “acomodar-se” e “agregar-se”. Este ano é reconfirmado quando é elaborado um Requerimento com o objectivo de nomeação como Comandante do Forte de S. António de Tavira em 1760, já no decurso do Reinado de Dom José I (1750/1777), e quando possuía uma idade avançada: “passou a este reino donde vive a muntos anuos, e ofereçendoçe voluntariam.te para se ocupar no real Serviço, por Rezulusaõ de V. Mag.e foi agregado no mesmo posto de Alferes de Cavallos, vencendo só meyo Soldo na Comp.a do Coronel do regim.to da Cid.e de Faro Reyno do Algarve; graça q V. Mag.e foi servida conceder a muntos estrangeiros: e porq. a trinta annos q. V. Mag.e lhe fés esta m.ce de o mandar agregar p.a ser acomodado em posto com exerssição, e se lhe não tem dado por tanto”. Fonte: (Requerimento-Registo na Secretaria de Guerra, op. cit., pp. 95 e 96).



 





Fortaleza de Santo António de Tavira, também designado por  Forte do Rato ou Forte da Ilha das Lebres, localizado na foz do rio Gilão 


A sua origem catalã e o seu envolvimento na guerra de sucessão de Espanha tornam-no numa testemunha viva para outros austracistas exilados em Portugal. É muito interessante este documento a testemunhar esse facto: “Bento Romaguera Colomér, natural do Reino de Catalunha, Capitão de Infantaria e Governador da Fortaleza de Stº Antº de Tavira: “Atesto que em rezão de ter sido Alferes de hum regimento de cavvalaria na guerra de Carlos 3º com Felipe 5º conheci a D. Salvador Augustim pesoa muito destinta do Reino de Valença, e nelle cappitam de cavallos, Senhor de Foyos, e Alcaide mór de Molvedres; o qual D. Salvador Augustin teve hua filha de sua primeyra mulher D. Maria Sorrives Ubal, chamada D.Maria Antónia Augustim, que cazou com Francisco Nunes da Sylva Comissário de mostras que então hera, e com elle se pasou ao Reyno de Portugal; e rezedindo na prouincia de Alenteyo, pasou para este Reyno do Algarve com o ditto seu marido, que veyo a excerser o posto de Vedor Geral do dito Reyno; aonde morreu: o que tudo sendo nesessario juro as Santos Evangelhos Tavira 5 de Setembro de 1765 Bento Romaguera Colomér”. Fonte (TT-FF-PJN, m23 nº1 Lázaro Antº, fl 98).
Na altura da elaboração deste documento, 1765, Bento Romaguera Colomer teria cerca de 75 anos. De momento é difícil apontar uma data para o seu falecimento. Sendo possível desvendar mais aspectos da sua vida e existência, recorrendo ao seu enquadramento familiar, é imperioso socorrermo-nos de mais e diversos dados fundamentados numa contextualização que contemple a sua família.

9 Geração (em relação ao autor do post)

Bento da Silva Romeguera Colomer (Natural S. M. Maior de Barcelona)
00
Maria Paula Francisca (Vaz Velho) (Natural S. M. Maior Barcelona)
Alferes de Cavalaria/Alferes de cavalleria (1709/1713); Capitão de Regimento de Cavalaria/Capitan Regiment de cavalleria "La Fe"nº2 (1713/1714); Alferes de Cavalaria integrado na Companhia do Regimento de Infantaria de Faro (1730); Governador do Forte de S. António de Tavira (1760) (ANTT, Conselho de Guerra, Decreto, Maço 119, nº 69).
VIII.1 Felícia Maria Joaquina
VIII.2 Jacinta
VIII.3 João



III
Conjuntura Familiar


Bento Romeguera nasceu no contexto de uma das famílias mercantis mais abastadas da cidade de Barcelona. Por linha materna era neto de Joan Colomer, figura destacada da nobreza mercantil Catalã filho de Antoni Colomer i Puig (1ª árvore de ascendentes maternos. Este seu avô foi um abastado comerciante e industrial de panificação em sociedade com Francesc Rós. Seguindo o Archivo Histórico de Protocolos de Barcelona (AHPB), é interessante constata que o seu filho varão, com o mesmo nome, recebeu em herança 800 dobles/duplas de ouro em propriedades e 100 em móveis e que os dotes das suas filhas, também, testemunham disponibilidade económica. A sua filha Josefa recebeu 1.100 II e 2 caixas de roupa. Paula de quem descendo no 1º casamento com Domingo Galant 1000 II e 2 caixas de roupa, no 2ºcasamento com o meu 10º antepassado, Juan de Romaguera, 151 II em roupa. Gestrudes recebeu o equivalente a 400 duplas de peles. (Fonte AHPB Cap. Matrim. (1663/1675);(1683/1687).

(1ª Árvore de Ascendentes maternos)

12 Geração (Avós Materno de Benet Romaguera, 12º antepassados em relação ao autor do post)
XII.1 Antoni Colomer i Puig (1589/1632)
00
?????
XI.1 Joan/Juan Colomer
XI.2 (um outro filho ??)

11 Geração
XI.1 Joan/Juan Colomer (?????/1680)
00
?????
Nobreza Mercantil Catalã (Abastado comerciante e industrial de panificação com sociedade com Francesc Rós)
X.1 Joan Colomer, industrial da panificação, proprietário urbano, Membro do Estament dels Mercaders (1693), Conseller Quart (1695/1711) 00 Teresa Isern i Rafart, filha de Pedro (Pere) di Isern (FCA).
X.2 Josefa Colomer 00 Arnold de Jager, Cônsul e comerciante Holandês importador de trigo.     
X.3 Paula Colomer 00 Juan de Romaguera, Capitão de Infantaria (pais de Benet/Bento Romaguera Colomer)
X.4 Gestrudes Colomer 00 Francisco Roig, Médico Cirurgião


Em Barcelona a pertença ao Estament dels Mercaders  estava reservada às profissões comerciais por grosso (incluindo armadores e proprietários urbanos dos grandes armazéns e oficinas),  os banqueiros (incluíam os “corretores de ouvido”). Os seus membros possuíam poderes e direitos políticos que remontavam a 1283. A posição dos comerciantes aumentou muito em 1455 com uma reforma em que o Conselho dos Cem/ Consell de Cent passou a conceder 32 lugares a membros do Estament dels Mercaders  e o  terceiro lugar de Vereador que depois recuou para quarto lugar na Cidade era ocupada, também, por um seu membro. Sabemos que o tio de Benet Romaguera, Joan Colomer, foi Conseller Quart entre (1695/1711). O Conselho de Registro, fundado no século XVI, só composta por membros do Estament dels Mercaders, mercadores independentes que excluíam os lojistas dependentes, a partir do século XVII começa a conceder titulações abrindo caminho a uma Nobreza Civil Mercantil que se vai socialmente impor numa prática semelhante ao que ocorria em Génova, Veneza ou Amesterdão.

Por via de casamentos de irmãos de sua mãe a proeminência familiar afirmou-se (1ª árvore de ascendentes maternos). O seu tio Joan Colomer, único na linha masculina, tinha uma importância económica primordial em Barcelona, tendo aderido à causa austracista com grande militância e ocupado diversos cargos administrativos e políticos. Em 1693 é nomeado membro do Estament dels Mercaders e entre 1695 e 1711 ocupa o prestigiado lugar de Conseller Quart  : “El fill de Joan, també de nom Joan, fou flequer com el pare, però s´introdui en el sector dels arrendaments públics amb els quals sénriqui el 1693 entra en l`estament dels mercaders i entre 1695 i el 1711 és Conseller Quart”. Fonte primária Benet d´OLIVA RICÓS (2001) i (2007), transcrita em fonte secundária na tese de Doutoramento de RICCI, Andrea (2013), Narcís Feliu de La Penya (1646/1712) i el seu temps, Universitat Autónoma de Barcelona (UAB) p.146. Esta tese em História Comparada, Política e Social, Séculos XVII-XX é possível de consulta integral na net pelo que é indicado aqui o indereço - http://www.tdx.cat/bitstream/handle/10803/125652/ar1de1.pdf?sequence=1
 (02.04.2015). A obra de Benet d´Oliva Ricós (2001), La generació de Feliu de la Penya: burgesia mercantil i guerra de successió entre el Maresme i Barcelona, Universidad de Lleida, pode ser adquirida na net.


Tem relevância, para interpretar as razões que levam Benet Romaguera a escolher Portugal para se exilar, saber-se que o Comando militar português do Arquiduque se instalou na residência de Joan Colomer de Barcelona e que, profissionalmente, foi um fornecedor de mantimentos do exército português estacionado na Catalunha:”Faço Saber que esta minha Privizam virem, que tendo concideraçam a me reprezentar por Sua petiçam Bento Romaguera, e Columer Catelam de nasçam, filho do Capitam Dom João Romaguera, e Sobrinho de Dom João Columer que o Ditto Seu Thio me Sérvio com muito zelo, e amor de Assentista das Tropas que militaram em Valença, e Catalunha; e em Barcelona adonde tinha a Caza a emprestrou voluntariamente para acomodaçam do Governador das Armas o Marquêz das Minnas, e do Mestre de Campo General o Conde de Attalaya e que Servindo elle Supplicante em as Guerras próximas passadas nas Tropas do Emperador emtam Rey Catholico…” (Fonte: Registo na Secretaria de Guerra, op. cit., p. 96).

O seu tio Joan Colomer casou com Teresa Isern i Rafart, filha de Pedro (Pere) di Isern, Cavaleiro Fidalgo proveniente de uma família aristocrática aragonesa e catalã. Não querendo ser enfadonho terei de desenvolver um pouco mais sobre o relacionamento da família Colomer com a Isern, por forma a explicar que este casamento entre o tio de sangue de Benet Romaguera, Joan Colomer, com a sua tia Teresa Isern i Rafart, teve repercussões sociais, económicas e políticas que extravasam este simples matrimónio. Para explicar esta questão tenho de remontar ao sogro de Joan/Juan Colomer.
Pedro Isern (1628/1701), num sistema de representação familiar e patrimonial que remontava ao século XIV e onde a varonia era uma constante a preservar, apesar de ter casado três vezes, uma primeira com uma Teresa Rafart em que só tem descendência feminina, uma segunda com uma senhora de nome Eulália sem descendência e uma terceira com Anna-Maria Parrella e Archs de quem tem uma filha, não teve um único filho varão. Consciente da preservação patrimonial, do nome de família, do estatuto social de ser cavaleiro e poder usar armas próprias elabora um testamento, em 1694, em que são nomeados herdeiros em ordem universal de primogenitura “toda a criança do sexo masculino nascida postumamente ou até ao momento de sua morte, e se não tiver herdeiros instituídos em suas filhas”. Vingou a última situação com uma dispersão patrimonial que não deixou de beneficiar a sua filha mais velha Maria Coll e Isern que herdou a representação da Casa familiar, casada com Miquel Coll Fontanet rico fazendeiro e cidadão honrado de Barcelona. Este casal não tendo, também, filhos varões, fez recair a representação familiar na sua filha Maria Coll i Fontanet i d'Isern casada com Salvador Feliu de la Penya, destacado nacionalista catalão que tomou partido por Carlos III de Áustria contra a linha Bourbon de Filipe V.
A segunda filha herdeira de Pedro Isern (1628/1701) foi Geronima Verivol e Isern casada Joan Verivol, rico fazendeiro, no bairro de Cabrils, importante financeiro sócio da Companhia Nova de Gibaltar. A terceira, Teresa Isern i Rafart, casou com Joan Colomer, Comerciante e Industrial de panificação, cidadão de Barcelona tio direito de Benet Romaguera. É extremamente interessante que por esta via existiu uma proximidade familiar real com Salvador Feliu de la Penya, figura central da resistência austracista em Barcelona. Grande parte da riqueza de Joan Colomer para além de provir dos seus pais, da sua própria gestão patrimonial viu-se acrescentada pela que chegou por via de sua mulher e explica a situação de privilégio em que vivia e permitiu receber em sua casa parte da mais importante aristocracia portuguesa e ser fornecedor da presença militar de Dom João V de Portugal  (Fontes: Desenvolvida e sintética sobre Salvador Feliu de la Penya file:///C:/Users/JPE/Downloads/113340-141171-1-PB%20(3).pdf; http://es.wikipedia.org/wiki/Salvador_Feliu_de_la_Pe%C3%B1a).
Existiram mais duas filhas herdeiras de Pedro Isern (1628/1701), a última do 3º casamento, sem descendência. O Convento dos Descalços Trinitários, administradores do Hospital Geral de Santa Cruz, obtiveram diversas doações.

O seu tio por afinidade, Arnold de Jager casado com a irmã de sua mãe Josefa Colomer, foi Cônsul dos Países Baixos e um dos principais mercadores holandeses sediados em Barcelona. Esteve no centro de um dos acontecimentos que mais pesaram na tomada de partido austracista de muitos barceloneses. Quando decorria um impasse nas Cortes Catalãs convocadas por Filipe V (1701/02), onde era evidente a desconfiança e reserva para com o pretendente a Soberano inicia-se a Guerra de Sucessão de Espanha. Filipe V retira-se de Barcelona, a 8 de Abril de 1702, fixando-se no Reino de Nápoles mas deixando um contingente militar e um Vice-Rei representando a sua Causa. Os conflitos não tardaram e o que ocorreu com o tio de Bento Romaguera Colomer vai ser o que terá mais repercussões. Em Outubro de 1702, por motivo de ser holandês e as Províncias Unidas formarem parte da coligação anti-bourbónica, Arnold de Jager residente desde 1661 em Barcelona e a sua família mais próxima têm ordem de expulsão. A Conferência de «los Tres Comunes» composta pela Diputación del General de Cataluña, o Consejo de Ciento de Barcelona e o Brazo militar de Cataluña, apoiada numa petição do Tribunal de Contrafacções pronuncia-se que a decisão violava as disposições constitucionais catalãs. Perante o alastramento de apoios a Arnold de Jager, o ainda pretendente a Rei de Espanha de Itália revoga o desterro. Estava instaurada a impopularidade de Filipe V e o sucesso que as Cortes instauradas pelo Arquiduque Carlos III teriam (1705/1706), após a expulsão da presença militar de Filipe V de Barcelona em menos de dois meses (22 de Agosto a 14 de Outubro de 1705). Certamente que este episódio político, mas em termos familiares no meu 9º antepassado vividos de forma particular, terão pesado na sua adesão incondicional à Causa Austracista. A sua tia Gestrudes Colomer casou com Francisco Roig, médico cirurgião com o estatuto social de nobreza de toga urbana. 


A sua mãe Paula Colomer manteve este estatuto de nobreza civil urbana da família ao casar com Juan de Romaguera, Capitão de Infantaria que irá participar na gestão patrimonial de sua mulher. Ambos faleceram com testamentos (Fonte: Juan de Romaguera Archivo Histórico de Protocolos de Barcelona (AHPB); f.136v-138v, 24-  IV-1691), bem como Paula Colomer (AHPB); f. 191v-192v, 18-XII-1696). Um dado curioso é que se sabe que Paula Colomer quando casou com Juan de Romaguera era viúva de Domingo Galant, falecido com testamento (Fonte: (AHPB); f.136v-138v, 14-XII-1684).


Bento Romaguera Colomer casou com Maria Paula Francisca Vaz Velho que sendo natural de Barcelona o seu pai e avós paternos eram portugueses, todos algarvios. O avô e pai de Tavira, a avó de Castro Marim (2ª árvore de ascendentes da mulher). Os avós em idade avançada e com filhos nascidos no Algarve ou somente o pai, mas neste caso bastante novo, devem ter emigrado para Barcelona. No caso dos avôs em período de Unidade Peninsular. Somente o pai levantando a dúvida de ter apanhado um período conflituoso na Catalunha não propício a fenómenos migratórios. Refiro-me à insurreição começada em 1640 e somente terminada em 1659. Com certeza sabemos que o sogro de Bento Romaguera Colomer, algarvio, casou em Barcelona com Rosa Maria Baron/Baram Colomé/Colomer, natural dessa cidade. Dos quatro filhos que vão ter os dois mais velhos nascem em Barcelona, mas os restantes em Portugal. Seguir historicamente a família de Maria Paula Francisca Vaz Velho (Colomer) é fundamental para se explicar o duplo exílio austracista dos seus pais e marido.
Na realidade o pai, Manuel Vaz Velho, um proeminente Metre de pastelaria e de cozinha, que desempenhará responsabilidades profissionais na Corte do Arquiduque Carlos III em Barcelona (1705/1711), na impossibilidade de continuar a exercer a sua profissão neste contexto proeminente e com a degradação política e económica subsequente deve ter sido tentado a emigrar. Facto que se concretizou e sabemos que em Portugal, começando por servir na Casa dos Condes de Redondo e acabando por chegar à Corte de Dom João V. Os Condes de Redondo representavam uma das famílias mais próximas da Coroa, com importantes funções e prerrogativas. Digo esta aparente banalidade para recordar que coube ao 11º Conde de Redondo, D. Tomé de Sousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes, receber em sua casa Dona Catarina de Bragança (1638/1705), quando enviuvou de Carlos II de Inglaterra em 1692, trinta anos após um casamento em que não ouve descendência e que terminou com o seu regresso a Portugal. Deambulando por diversas residências da mais influente aristocracia da altura, após passar pelas casas do Conde de Redondo, do de Soure e do de Aveiras, construiu o seu próprio palácio da Bemposta/Campo Real. Neste palácio recebeu o Arquiduque Carlos III, em 1701, e exerceu Regência quando o seu irmão Dom Pedro II, precisamente com o Arquiduque e em 1704, a partir da Beira dá início à guerra da sucessão de Espanha.
Manuel Vaz Velho neste período encontra-se em Barcelona e ainda não pertence aos serviçais do Arquiduque que, como já referi só pode ter decorrido no período de (1705/1711). Tenho dúvidas, “quanto ao ter servido o Conde de Redondo”, se terá sido o 11º no final da sua vida, porque falecido em 1717, se o 12º D. Fernando de Sousa Coutinho Castelo-Branco e Menezes ou, até ambos, antes de integrar a Casa Real.


O que é absolutamente notável no prestígio profissional de Manuel Vaz Velho, desenvolvido na proximidade directa da Casa Real, é que o mesmo foi aproveitado na condução e formação dos seus filhos que, rapidamente, atingem um estatuto social alicerçado em actividades profissionais e património que conduzem em Tavira a constituírem uma das famílias mais importantes da segunda metade do século XVIII.



(2ª Árvore de Ascendentes de Maria Paula Francisca Vaz Velho)

11 Geração Paterna
Domingos Dias Velho (Natural F. da Conceição de Tavira)
00
Barbara Raposa (F. N S dos M  de Castro Marim/????)

10 Geração Paterna

Manuel Vaz Velho (Natural F. da Conceição de Tavira)
Cozinheiro do Arquiduque Carlos III, do Conde Redondo e, por último, da Casa Real Portuguesa

11 Geração Materna
Caetano Baron (Barão) (Natural Barcelona)
00
Matilde Colomer (Natural S M do Mar Barcelona)

10 Geração Materna

 Rosa Maria (Baram Colomé) (Natural S M do Mar Barcelona)
               
                        IX.1 Caetano Vaz Velho.
IX.2 Maria Paula Francisca Vaz Velho ( N. Barcelona) 00 Bento da Silva Romeguera (meus antepassados).
                               IX.3 Manuel Vaz Velho (1720/1794) 00 (D.) Rita Maria Pereira. Cavaleiro da Ordem de Cristo (COC), Almoxarife, Meirinho de Serventia da Alfândega de Tavira e possuidor da doação da Serra de Tavira. Construiu a casa senhorial da família Vaz Velho conhecida como a “Casa da BelaFria”, em Tavira (http://www.patrimonius.net/detalhes.php?i=2089. Deve-se na Família, a um seu neto com o nome do seu tio Sacerdote, António José Vaz Velho (1771/1860), a Carta de Armas (CA) Vaz Velho ("Autuação de huma petição, Setença e Documento de António José Vaz Velho, para haver de se lhe passar Brazão de Armas", “Foi-lhe passado carta de brasão de armas (um escudo partido em pala; na primeira as armas dos Velhos, e na segunda as dos Vazes)-Lisboa, 1816 (Registo dos Brazões de Armas da Nobreza, Liv.7. A.N.T.T) e Archivo Heraldico-Genealogico do Visconde Sanches Baena, Vol. I, p.64). No posto de major fez parte do corpo de exército que, sob o comando do Conde de Castro Marim, se organizou no Algarve após a expulsão dos franceses em 1808. Como brigadeiro serviu o exército de Dom Miguel I, tendo assistido à Convenção de Évora-Monte. Foi Cavaleiro da Ordem de Avis (COA) e CFCR (Mordomia da Casa Real, Liv11,fls 25,Rolo 1419 e Mordomia da Casa Real, Liv. 25, Rolo 1423, A.N.T.T). Recolhido na sua casa da BelaFria, após a Convenção de Évora-Monte, dedicou-se a rever e melhorar os seus trabalhos heráldicos, primeiramente apresentados em 1820, que viriam a ser reunidos na segunda metade do século XX, numa edição (1958/1963) em 4 vols. Intitulada Tesouro Heráldico de Portugal e que respeita o seu Autor, da responsabilidade do Gabinete de Estudos Heráldicos e Genealógicos de Lisboa, em que estiveram envolvidos o Capitão Gastão de Mello de Matos, o Dr. Eugénio de Andrea da Cunha e Freitas, Manuel Rosado Marques de Camões e Vasconcellos, Joaquim Trigueiros de Aragão e Luís Stubbs Saldanha Monteiro Bandeira. As ilustrações foram da responsabilidade de José de Sepúlveda Velloso, J. R. Bértholo e José Mendes. A apresentação da obra ficou a cabo do Presidente do Instituto Português de Heráldica, Marquês de São Payo.  António José Vaz Velho (1771/1860) teve um irmão eclesiástico que desenvolveu carreira universitária como Lente de Teologia na UC, foi cónego magistral na Sé de Évora e Deputado pelo Algarve nas Cortes de 1821.
IX.4 António José Vaz Velho, Cavaleiro da Ordem de Cristo (COC), Capelão Del Rei, Presbítero do Hábito de S. Pedro.


No Blog indispensável para um conhecimento e confirmação relativa a matérias, assuntos e acontecimentos do Algarve é possível cartograficamente, numa associação rigorosa da geografia e da História, localizar a Casa Apalaçada dos Vaz Velhos em Tavira (Fonte: http://imprompto.blogspot.pt/search/label/Tavira05.05.2015))


Sistematização dos elementos arquitectónicos identificados

 
  1. Convento das Bernardas
  2. Igreja de S. Sebastião
  3. Convento de S. Francisco
  4. Castelo
  5. Igreja de Santa Maria
  6. Convento da Graça
  7. Torre Norte da Cerca da Graça (muralha medieval almóada)
  8. Igreja de S. Roque
  9. Casa de Vaz Velho
  10. Pelames
  11. Torre manuelina da porta da Bela Fria
  12. Barbacã manuelina
  13. Palácio da Galeria
  14. Torre e Porta do Mar
  15. Praça da Ribeira
  16. Alfândega: edifícios e terreiro
  17. Horta do Rei e Horta do Bispo
  18. Edifícios singulares
  19. Ponte
  20. Igreja de S. Lázaro
  21. Porta Nova
  22. Igreja da Sra. da Ajuda e Convento de S. Paulo
  23. Largo da Alagoa
  24. Igreja de Sant'Ana
  25. Rua Direita do Corpo Santo
  26. Rua do Sapal
  27. Estrada para Castro Marim (Carreira de S. Lázaro)
  28. Rua da Porta Nova
  29. Estrada do Cano para Faro
  30. Rua do Sapal de Sant'Ana. Caminho para Vale Formoso
  31. Rua do Alto do Cano e estrada de Loulé
  32. Rua da Praia da Ribeira (Porto de Tavira)
  33. Adro da Porta da Vila
  34. Largo/Terreiro da Corredouras
  35. Torre do canto Noroeste da cerca da Graça
 Tipos de elementos

A    Casas conventuais
B    Igrejas e ermidas
C    Fortificações medievais: castelo e muralhas
D    Portas e cercas fiscais pós-medievais
F    Casas particulares notáveis       
G    Hortas e campos agrícolas
H    Largos e Terreiros
I     Edifícios de comércio e administração local
J    Edifícios de manufacturas (curtumes)
K    Eixos de arruamentos e limites de largos


O sobredimensionamento
O sobredimensionamento referido atribui um estilo "maneirista"  á gravura, em que o desenhador aumenta selectivamente os principais símbolos urbanísticos de prestígio da povoação: a ponte, que é o ex-libris da cidade, e a fortificação medieval, cujo valor é porém meramente simbólico visto ser já completamente anacrónica na época.


                               
Não é objectivo de investigação debruçar-me sobre a família Vaz Velho de Tavira, muito menos elaborar uma pesquisa genealógica sobre a mesma. Aliás isso seria válido para outras famílias que cedo se cruzaram com os Vaz Velho como a Inglez em Tavira e a Sanches de Faro, por sua vez entroncadas e cruzadas com outras Famílias Históricas do Reino do Algarve (FHRA) como os Rebelos, Jaques e Coelhos Vieiras de Lagos, os Freitas d`a Magdalena do Mar da Madeira, os Mouratos de Moncarapacho,  Lopes Tavares e Banha de Siqueira de Tanger, os Ribeiros de Gouveia de Portimão ou os Gouveia Mendonça Pessanha de Tavira. Importante é que ao imperar o apelido da mulher na família, o apelido Romaguera Colomer perdeu-se e durante várias gerações a sua existência, mas sobretudo a sua origem segura, e porque razão surge em Portugal, eram um mistério com muito por entender. Uma vez que entramos numa reflexão em que a genealogia é disciplina fundamental de averiguação e explicação, desafio a se investigar a quase certa situação de parentesco entre Bento Romeguera Colomer e a sua mulher. Maria Paula Francisca Vaz Velho era filha de uma Rosa Maria Baram Colomer e neta materna de uma Matilde Colomer. Neste sentido todos os Vaz Velhos de Tavira são “Colomeres”, mas os que descendem de Maria Paula Francisca (Baram Colomer) Vaz Velho e de Bento da Silva Romaguera Colomer o são duplamente.






















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