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(4) Definhamento da III República



Genesis - The Cinema Show (1973)



Esforço não concretizado 

Quase a 40 anos da "revolução do 25 de Abril" vale apena meditar e avaliar os esforços socialistas e capitalistas dos novos detentores do poder político que em sucessivos ensaios e experiências conseguiram, em conjunto, que Portugal viva em protetorado e com uma dívida de 130% do PIB. O mais extraordinário  é avaliar a tão surtida saída da miséria a que estávamos votados. Surpreendentemente quando analisamos o rendimento per capita disponível pelos portugueses verificamos que não alterarmos, substancialmente, o nosso posicionamento em 40 anos (1973/2013). Bem pelo contrário temos neste momento mais 10 países com uma população com um rendimento disponível superior ao nosso. Para esta análise ser mais cientifica e académica socorro-me de um indicador da responsabilidade de  uma agência de segurança dos EUA, grande guardião dos valores demo-liberais, com quem a classe política que se instalou, se procriou e tem tido sucesso na III República, partilha o unanimismo  de a eleger como depositária da promoção da paz, do progresso e da liberdade mundial (Quadro I).

Apetece-me pensar nestas coisas em 5 minutos e 12 segundos com a 2ª parte da música "The Cinema Show" dos Genesis, tema sugestivo para descrever onde estamos mergulhados. No estado de catarsis como esta III República tem alguma herança na I - a sua forma atribulada, sem transição de Regime, onde sem Monarquia a trapalhada muitas vezes Reinou, a corrupção alastrou e a Justiça nem sempre funcionou- acompanhemos as suas próximas evoluções. 


 Quadro I
Países com rendimento per capita superior a Portugal (1973/2013)

Países
1973
Países
2013
1. Mónaco
21.278
1. Qatar
102.100
2. E Árabes Unidos
7.445
2. Liechtenstein
89.400
3. Luxemburgo
7.337
3.Luxemburgo
77.900
4. Liechtenstein
7.354
4.Mónaco
65.500
 5. Suíça
7.047
5.Singapura
62.400
6. Suécia
6.789
6.Noruega
55.400
7. EUA
6.462
7. Brunei
54.800
8. Dinamarca
5.966
8.USA
52.800
9. Kuwait
5.811
9.Suíça
46.000
10. Canada
5.764
10.Canada
43.100
11. Noruega
5.640
11.Austrália
43.000
12. Qatar
5.637
12.Áustria
42.600
13. Islândia
5.365
13.Kuwait
42.100
14. Andorra
5.319
14.Holanda
41.600
15. Holanda
4.981
15.Suécia
41,400
16. França
4.918
16.Irlanda
41.100
17. RFA
4.883
17. Islândia
40.700
18. Bélgica
4.837
18.Taiwan
39.600
19. Austrália
4.800
19.Alemanha
39.500
20. Finlândia
4.122
20.Dinamarca
37.800
21. Áustria
3.879
21.Bélgica
37.800
22. Japão
3.873
22.Reino Unido
37.300
23. Reino Unido
3.256
23.Andorra
37.200
24. Itália
3.088
24.Japão
37.100
25. Israel
2.819
25.França
37.100
26. Grécia
2.408
26.Israel
34.900
27. Irlanda
2.363
27.Coreia do Sul
33.200
28. Espanha
2.193
28.Arábia Saudita
31.300
29. Arábia Saudita
2.181
29.Nova Zelândia
30.400
30. Argentina
2.083
30.Espanha
30.100
31. Singapura
1.928
31. E Árabes Unidos
29.900
32. Portugal
1.723
32. Bahrain
29.800


33.Omã
29.800


34.Itália
29.600


35.Malta
27.500


36.Eslovénia
27.400


37. R. Checa
27.200


38. Seychelles
25.700


39.Eslováquia
24.700


40. Chipre
24.500


41.Grécia
23.600


42.Portugal
22.900
Fonte:  World Factbook /B Mundial - Moeda: (dólar norte-americano)

(3) Definhamento da III República

Genesis - Álbum Duke - junção das músicas "Duke's Travels" / "Duke's End" (1980)


No meio da nebulosidade e tempo chuvoso pouco habitual para  as noites finais de uma Primavera que não se desejou manifestar em todo o seu esplendor, fugindo ao sufoco das notícias que só confirmam a agonia que vive a III República, assomei-me à janela abrindo-a e contemplando o luar que com sorte climatérico era visível. Lembrei-me da capa do Álbum Duke dos Genesis. Na impossibilidade de o escutar num vinil que guardo religiosamente há 33 anos fui para o youtube. Abençoada crise que me conduziu a temas memoráveis. A junção de "Johnny C´s Music Emporium"  é particularmente feliz e por isso é aqui reproduzida.

Com esta música ganha-se coragem para com rigor se verificar que o desempenho económico regressivo, acompanhado de desemprego galopante   que de forma gravíssima ocorre com a população activa em decrescimento, somado com um universo de pensões quantitativa e qualitativamente insustentáveis, se está a criar o ambiente para um total desastre da III República. O palavreado economicista liberal e marxista vai ter de se esforçar, apoiado no baú das suas utopias, para enfrentar a crueldade da situação. Vamos aos factos sem contemplações.

O mercado do trabalho cresceu até 2008, sendo visível que nesse ano Portugal alcançou o número mais elevado de população activa (Quadro 1) com um desemprego nos 7,6% (Quadro 2). A situação actual pode ser considerada dramática porque o desemprego sobe num contexto em que o total da população activa diminui (Quadros 1 e 2). Em  cinco anos (2008/2012) ocorreu uma perda de 130.100 activos com um aumento de 433.000  desempregados. Na realidade o potencial produtivo humano teve uma contracção com repercussões  em 563.100 pessoas. 

Quadro 1
População Activa


Ano
População activa
2005
5.559.900
2008
5.624.900
2010
5.587.300
2011
5.543.200
2012
5.494.800

Fonte: INE.
Nota: O máximo de População Activa, contabilizada em 2008, foi de 5.624,900

Neste quadro económico existiam desempregados que deixaram de ser classificados como tal, não porque arranjaram emprego em Portugal mas porque o procuraram no estrangeiro. As estatísticas oficiais do Instituto do Emprego e da Formação Profissional (IEFP) comprovam-no com o aumento da emigração de portugueses e o retorno de imigrantes estrangeiros. Em 2011 foram anulados 22.700 registos devido ao fenómeno emigratório. Até Setembro de 2012 ocorreram 24.689 anulações. Estes registos sugerem que a opção pelo estrangeiro está cada vez mais em cima da mesa dos trabalhadores que se encontram numa situação de desemprego.


Quadro 2
Aumento do número de desempregados


Anos
Nº de Desempregados
Taxa de Desemprego (%)
2008
427.100
7,6
2009
528.600
9,5
2010
602.600
10,8
2011
706.100
12,7
2012
860.100
15,7
                                 Fonte: INE.

Esta situação de diminuição da população activa acrescida do aumento de desemprego vai tornar incomportável a manutenção do Regime de Pensões tal como foi concebido até hoje (Quadro 3). Em 2010 existiam 440.194 aposentados pela Caixa Geral de Aposentações dos quais 49.562 com pensões entre os 2.500 euros e os 4.000 e 4.839 com pensões acima dos 4.000 euros. Em 2012 esses valores cresceram respectivamente para 462.446 aposentados, 53.500 pensionistas e 5.556 beneficiados.


Quadro 3

  Número de aposentados por regime e valor de pensão


Caixa Geral de Aposentações

Anos
Total
2.500 a 4.000 €
4.000 €
2010
440.194
49.562
4.839
2012
462.446
53 500
5.556
Regime Geral da Segurança Social

Anos
Total
2.500 a 4.000 €
4.000 €
2010
1.603.882
10.546
841
2012
1.698.989
11.941
947




Total 2010
2.044.076
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--------------
Total 2012
2.161.435
--------------------
--------------

                             Fonte: INE.

Situação completamente diferente ocorre no Regime Geral da Segurança Social. Nesse ano em 1.603.882 pensionistas por velhice, no escalão de pensões entre 2.500 euros e 5.000 euros encontravam-se 10.546 beneficiários. Com pensões acima de 5.000 euros existiam 841 cidadãos. Em 2012 existiam quase 1,7 milhões de aposentados dos quais quase 12.000 recebiam pensões entre os 2.500 e os 5.000 euros. Quase 950 pessoas tinham pensões acima dos 5.000 euros (Quadro 3).

Os ingredientes estão lançados para os 40 anos da III República (1974/2014) venham a ser comemorados em ambiente de luta de classes intergeracionais.